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terça-feira, 24 de maio de 2022

SOCIEDADE MEDIEVAL

SOCIEDADE MEDIEVAL

    Organização política, econômica e social. Terminadas as invasões, as sociedades européias começaram a se estabilizar e, de acordo com a organização social, política e econômica que se fixava, passaram a ser compostas por três categorias sociais, cada qual com sua função específica: 
• a que trabalhava – a servil camponesa; 
• a que rezava - a clerical; 
• a que guerreava – a senhorial. 
A sociedade feudal era, portanto, uma sociedade tripartida (dividida em três partes) e estamental, ou seja não aceitava mudanças.


A posse da terra (do feudo) era o critério que determinava o lugar do indivíduo na sociedade. Por menor que fosse o tamanho do feudo, seu proprietário possuía importância na sociedade. A Igreja Católica tornou-se a maior proprietária de terras na Europa medieval, portanto ela era a instituição mais poderosa da sociedade feudal.

Mas a característica fundamental dessa sociedade estava nas relações existentes entre os homens que a compunham. Todo homem, do mais humilde ao mais poderoso, ligava-se a um outro homem, superior na hierarquia, que o tomava sob sua proteção em troca de diversas obrigações. Assim, criava-se um sistema no qual todos os homens estavam subordinados uns aos outros e ligados entre si por obrigações mútuas.



Sociedade Estamental

Sociedade na qual o indivíduo pertence a uma categoria com função e lugar específicos, sendo-lhe proibida a passagem de uma ordem para outra.

Mesmo os grandes senhores deviam obediência pessoal ao rei, embora, na prática, ela nem sempre se verificasse. E a posição do rei, por sua vez, dependia quase sempre de suas relações com as autoridades da Igreja.

Quanto aos indivíduos que não possuíam terras e que, em troca de proteção, se puseram ao serviço de um senhor, eram os que, de fato, trabalhavam a terra.

Enfim, a sociedade feudal era uma sociedade fortemente hierarquizada, na qual cada uma das camadas sociais devia estar ciente de suas funções, seus direitos e deveres. Afinal, segundo justificativa da Igreja Católica, “o próprio Deus quis que, entre os homens, alguns fossem senhores e outros, servos, de modo que os senhores venerem e amem a Deus e que os servos amem e venerem o seu senhor”. 

O que era o feudalismo?

 Dá-se o nome de feudalismo ao modo de organização da sociedade que se baseava nos trabalhos dos servos. Predominante na Idade Média, suas principais características eram o poder político descentralizado, economia alto suficiente e forte influência religiosa.

Suserania e Vassalagem 

Em seu governo, Carlos Magno costumava doar terras aos membros de sua nobreza, que, em troca, juravam prestar-lhe serviços, principalmente militares. Com essa atitude o imperador se tornava o suserano – aquele que na Idade Média feudal doava a terra – de uma série de vassalos – aqueles que recebiam a doação.

Os nobres que recebiam as terras passaram a ter imunidades contra qualquer interferência do rei em suas propriedades rurais, exceto quando desrespeitavam as obrigações.

A terra doada tornava-se um feudo, ou seja, uma propriedade onde o seu dono estava investido de poderes políticos e jurídicos, mantendo, com seu suserano, um compromisso militar.

A autoridade política e jurídica dos senhores feudais em sua propriedade rural era indiscutível e foi exercida durante quase toda a Era Feudal, superando o poder do rei. Essa transferência do poder das mãos do rei para as mãos dos senhores feudais tornou-se a característica política fundamental do feudalismo.

Na Era Feudal, o sistema de concessão de feudos se estendeu, tornando-se comum um grande proprietário conceder parte de suas terras a outro nobre. A subordinação entre os senhores feudais variava de acordo com a posição que cada um ocupava na hierarquia da nobreza, dividida em alta nobreza — duques, condes e marqueses — e baixa nobreza — barões e cavaleiros.

As obrigações entre os membros dessa elite aristocrata, que valorizava a guerra e a prática militar, eram estabelecidas através de um juramento de fidelidade, que mais uma vez remontava ao comitatus germânico, feito numa cerimônia denominada homenagem.

De acordo com o contrato feudal aí estabelecido:

• o suserano se obrigava a dar proteção e apoio jurídico a seu vassalo;

• os vassalos, por sua vez, juravam participar do exército particular do suserano e contribuir com dinheiro para resgatá-lo, caso fosse feito prisioneiro, bem como para armar cavaleiro um filho do suserano e para o dote de uma filha deste quando ela se casasse.

Na linha hierárquica da nobreza, um nobre poderia ser ao mesmo tempo, suserano de vários vassalos e vassalo de 
um ou de vários suseranos. Por exemplo, na França feudal, embora o poder político estivesse concentrado nas mãos dos senhores e a autoridade real fosse limitada pelas normas feudais, o rei ocupava o topo da hierarquia social, pois era considerado o suserano de todos os suseranos. Isso significa que os grandes senhores, ao mesmo tempo em que eram suseranos de outros senhores feudais, para os quais haviam doado terras, estavam ligados ao rei pelos compromissos de vassalagem.

 

A organização do feudo.

As grandes unidades rurais chamadas feudos abrigavam os bosques, os pastos, as terras para o cultivo, o castelo fortificado, uma igreja ou capela e as aldeias desprovidas de fortificações. Dessas aldeias saíam os servos de madrugada para o trabalho agrícola, cuidar do gado ou, ainda, colher frutos nos bosques, caçar e pescar, já que a caça e a pesca eram parte substancial de sua alimentação.

As terras nessas grandes propriedades estavam divididas em três partes:

• bosques e pastos de utilização comum pelo senhor e pelos servos;

• manso senhorial, de uso exclusivo do senhor; 

• manso servil, onde os servos trabalhavam pagando ao senhor com produtos e prestação de serviços em troca do uso da terra.

Nas terras reservadas ao cultivo, era praticada uma agricultura de subsistência, ou seja, voltada para o consumo da comunidade.

O comércio era local geralmente feito à base de troca e cada feudo tinha sua própria moeda, cuja circulação se restringia à sua comunidade.

Nos primeiros séculos do feudalismo, a agricultura era praticada fazendo-se o rodízio das áreas cultivadas, conhecido como sistema de dois campos. Nesse sistema, a cada ano, um dos dois campos era cultivado e o outro ficava descansando para recuperar a fertilidade.

Uma pequeníssima parte das atividades agrícolas era executada por um reduzido número de trabalhadores livres conhecidos como vilões, que também eram obrigados a dar parte do que produziam ao dono da propriedade. Mas, ao contrário dos servos, os vilões tinham a liberdade de deixar a terra quando quisessem. Além disso, os bens que eles acumulavam lhes pertenciam inteiramente.

Os camponeses compunham a imensa maioria de servos.

Embora os vários países da Europa feudal apresentassem diferentes tipos de vida no campo, os servos em geral compunham a grande quantidade de produtores agrícolas dependentes e presos à terra e às obrigações que lhes eram impostas pelos senhores feudais, como a talha, a corvéia e as banalidades:

a talha consistia na obrigação dos camponeses de darem ao senhor da propriedade uma parte do que produziam, que em geral correspondia à metade;

a corvéia era a obrigação de trabalharem sem remuneração alguns dias da semana nas áreas de cultivo reservadas ao senhor;

as banalidades eram os pagamentos obrigatórios que eles faziam ao senhor pelo uso da destilaria, do forno, do celeiro, do moinho.

Todas essas obrigações, somadas à doação do dízimo (10%) da sua produção à Igreja, resultavam em aflitivos dramas sociais, principalmente a fome e a miséria, que levavam os servos a revoltas freqüentes.

A principal função dos servos era produzir para satisfazer as suas próprias necessidades, bem como as daqueles para os quais o trabalho era uma atividade destinada exclusivamente às camadas consideradas socialmente inferiores.




SOMOS TODOS DA IDADE MEDIA

 

SOMOS TODOS DA IDADE MÉDIA

 

Pouca gente se dá conta, mas muitos hábitos, conceitos e objetos tão presentes no nosso dia-a-dia, inclusive o próprio idioma que falamos, vêm daquela época.

Muitos professores consideram especialmente árdua a tarefa de ensinar História Medieval. A distância que separa os alunos de época tão remota, argumentam alguns, seria um dos principais obstáculos. Como despertar seu interesse por tema tão antigo? Como passar às novas gerações conceitos, idéias e fatos que, aparentemente, têm tão pouco a ver com o mundo de hoje? Mas seria bem diferente se eles mostrassem a seus discípulos que, como veremos a seguir, e embora muita gente não se dê conta, nosso próprio cotidiano está impregnado de hábitos, costumes e objetos que vêm de muito mais longe do que se pode imaginar.

Ao tratarmos da História do Brasil, por exemplo, a tendência é começar no dia 22 de abril de 1500, quando Pedro Álvares Cabral e os tripulantes de sua esquadra “descobriram” nossa terra. Mas aqueles homens não traziam atrás de si, dentro de si, toda uma história? Não trouxeram para cá amplo conjunto de instituições, comportamentos e sentimentos? Aquilo que é até hoje o Brasil não tem boa parte da sua identidade definida pela longa história anterior de seus “descobridores”? Dizendo de outro modo, nossas raízes são medievais, percebamos ou não este fato.

Pensemos num dia comum de uma pessoa comum. Tudo começa com algumas invenções medievais: ela põe sua roupa de baixo (que os romanos conheciam mas não usavam), veste calças compridas (antes, gregos e romanos usavam túnica, peça inteiriça, longa, que cobria todo o corpo), passa um cinto fechado com fivela (antes ele era amarrado). A seguir, põe uma camisa e faz um gesto simples, automático, tocando pequenos objetos que também relembram a Idade Média, quando foram inventados, por volta de 1204: os botões. Então ela põe os óculos (criados em torno de 1285, provavelmente na Itália) e vai verificar sua aparência num espelho de vidro (concepção do século XIII). Por fim, antes de sair olha para fora através da janela de vidro (outra invenção medieval, de fins do século XIV) para ver como está o tempo. 

Ao chegar na escola ou no trabalho, ela consulta um calendário e verifica quando será, digamos, a Páscoa este ano: 23 de março de 2008. Assim fazendo, ela pratica sem perceber alguns ensinamentos medievais. Foi um monge do século VI que estabeleceu o sistema de contar os anos a partir do nascimento de Cristo. Essa data (25 de dezembro) e o dia de Páscoa (variável) também foram estabelecidos pelos homens da Idade Média. Mais ainda, ao escrever aquela data – 23/3/2008 –, usamos os chamados algarismos arábicos, inventados na Índia e levados pelos árabes para a Europa, onde foram aperfeiçoados e difundidos desde o começo do século XIII. O uso desses algarismos permitiu progressos tanto nos cálculos cotidianos quanto na matemática, por serem bem mais flexíveis que os algarismos romanos anteriormente utilizados. Por exemplo, podemos escrever aquela data com apenas sete sinais, mas seria necessário o dobro em algarismos romanos (XXIII/III/MMVIII).

Para começar a trabalhar, a pessoa possivelmente abrirá um livro para procurar alguma informação, e assim homenageará de novo a Idade Média, época em que surgiu a idéia de substituir o incômodo rolo no qual os romanos escreviam. Com este, quando se queria localizar certa passagem do texto, era preciso desenrolar metros de folhas coladas umas nas outras. Além disso, o rolo desperdiçava material e espaço, pois nele se escrevia apenas de um lado das folhas. O formato bem mais interessante do livro ficou ainda melhor com a invenção da imprensa, em meados do século XV, que permitiu multiplicar os exemplares e assim barateá-los. Tendo encontrado o que queria, a pessoa talvez pegue uma folha em branco para anotar e, outra vez, faz isso graças aos medievais. Deles recebemos o papel, inventado anteriormente na China, mas popularizado na Europa a partir do século XII. Mesmo ao passar suas idéias para o computador, a pessoa não abandona a herança medieval. O formato das letras que ali aparecem, assim como em jornais, revistas, livros e na nossa caligrafia, foi criado por monges da época de Carlos Magno.

Sentindo fome, a pessoa levanta os olhos e consulta o relógio na parede da sala, imitando gesto inaugurado pelos medievais. Foram eles que criaram, em fins do século XIII, um mecanismo para medir o passar do tempo, independentemente da época do ano e das condições climáticas. Sendo hora do almoço, a pessoa vai para casa ou para o restaurante e senta-se à mesa. Eis aí outra novidade medieval! Na Antiguidade, as pessoas comiam recostadas numa espécie de sofá, apoiadas sobre o antebraço. Da mesma forma que os medievais, pegamos os alimentos com colher (criada aproximadamente em 1285) e garfo (século XI, de uso difundido no XIV). Terminada a refeição, a pessoa passa no banco, que, como atividade laica, nasceu na Idade Média. Depois, para autenticar documentos, dirige-se ao cartório, instituição que desde a Alta Idade Média preservava a memória de certos atos jurídicos (“escritura”), fato importante numa época em que pouca gente sabia escrever.

À noite, enfim, a pessoa vai à universidade, instituição que em pleno século XXI ainda guarda as características básicas do século XII, quando surgiu. As aulas, com freqüência, são dadas a partir de um texto que é explicado pelo professor e depois debatido pelos alunos. Alguns deles recebem um auxílio financeiro para poderem estudar, como no colégio fundado pelo cônego Roberto de Sorbon (1201-1274) e que se tornaria o centro da Universidade de Paris. Depois de mais um dia de trabalho e estudo, algumas pessoas querem relaxar um pouco e passam na casa de amigos para jogar cartas, divertimento criado em fins do século XIV, como lembram os desenhos dos naipes e a existência de reis, rainhas e valetes. Outros preferem manter a mente bem ativa e vão praticar xadrez, jogo muito apreciado pela nobreza feudal, daí a presença de peças como os bispos, as torres e as rainhas.

Durante todas essas atividades, pensamos, falamos, lemos e escrevemos em português, sem, na maioria das vezes, nos darmos conta de que esse elemento central do patrimônio cultural brasileiro vem da Idade Média. E não só porque a nossa língua nasceu em Portugal medieval. Como qualquer língua, com o passar do tempo o português falado na sua terra de origem foi se alterando bastante. Muitas características do idioma falado hoje em dia em Portugal – inclusive o que chamamos de sotaque daquele povo – são do século XIX. Mas no Brasil aquele idioma foi introduzido no século XVI por colonos que falavam da mesma forma que cem ou duzentos anos antes, isto é, como em Portugal medieval. Além disso, sendo o Brasil muito vasto e muito distante da metrópole portuguesa, as lentas transformações na língua demoravam mais para chegar aqui. Em resumo, falamos hoje um português mais parecido com o da Idade Média do que com o de Portugal moderno.

Estudos recentes mostraram que idosos analfabetos do interior de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e São Paulo usavam, em fins do século XX, formas do português dos séculos XIII-XVI. Essas pessoas ainda falam esmolna em vez de “esmola”, pessuir e não “possuir”, despois no lugar de “depois”, preguntar para dizer “perguntar”. Contudo, não se trata propriamente de erros, e sim de exemplos de manutenção de formas antigas, levadas àqueles locais pelos bandeirantes nos séculos XVI e XVII. Devido ao isolamento e à pobreza daquelas regiões, esse modo de falar prolongou-se pelos séculos seguintes.

Basta uma rápida olhada em qualquer aglomerado humano no Brasil, seja no metrô, num estádio de futebol ou simplesmente nas ruas, para se constatar o que todos sabemos: a população brasileira tem alto grau de mestiçagem. Nada estranho, já que a terra era habitada por diferentes tribos indígenas quando os portugueses aqui chegaram, e logo foram introduzidos muitos escravos africanos. O que se ignora com freqüência, porém, é que se os dominadores portugueses aceitaram com facilidade a mestiçagem, é porque ela fazia parte da sua prática social havia muito tempo. Eles resultavam da mistura entre celtas, romanos, germanos, berberes (população do norte africano), árabes, judeus e negros. Importantes historiadores já afirmaram que, pelo menos até o século XIV, os mouros não devem ser considerados uma etnia, e sim uma minoria religiosa, porque, em termos raciais, não havia diferença entre portugueses cristãos e portugueses muçulmanos. Portanto, os portugueses já eram mestiços ao chegarem à América, o que facilitou a mistura racial na colônia.

Estudar História – de qualquer época e de qualquer local – não deve ser tarefa utilitarista, não deve “servir” para alguma coisa específica. A função de seu estudo é mais ampla e importante; é desenvolver o espírito crítico, é exercitar a cidadania. Ninguém pode atingir plenamente a maturidade sem conhecer a própria história, e isso inclui, como não poderia deixar de ser, as fases mais recuadas do nosso passado. Assim, estudar História Medieval é tão legítimo quanto optar por qualquer outro período. Mas não se deve, é claro, desprezar pedagogicamente a relação existente entre a realidade estudada e a realidade do estudante. Neste sentido, pode ser estimulante mostrar que, mesmo no Brasil, a Idade Média, de certa forma, continua viva.

( Hilario Franco Junior)

1) Com base em seus conhecimentos e no texto, explique por que a Idade Média não pode ser classificada como a “Idade das Trevas”.

2) Hilário Franco Jr. aponta em seu texto uma série de hábitos e tradições herdados do Medievo. Quais outras práticas medievais podem ser apontadas como relevantes até os dias atuais? (Cite ao menos duas).

3) Que parte do texto lhe chamou mais atenção? Explique por que:

4) O texto é jornalístico, literário, filosófico, jurídico ou historiográfico?

5) De que forma o autor do texto tenta demonstrar aquilo que afirma?

6) Por que você acha que o autor do texto mostrou vários hábitos e objetos que surgiram na Idade Media e permanecem ate hoje?

7) Cite exemplos de alguns objetos inventados na Idade Media e que usamos ate hoje: