Reforma Religiosa
A Igreja Católica foi a única organização a
manter-se unida durante o período medieval. Durante esse período ela alcançou
um poder gigantesco dentro da Europa, mas no século XIV ela passou a perder sua
autoridade e prestígio. Os reis estavam se fortalecendo e retiravam o poder das
mãos dos senhores feudais e da Igreja. Para recuperar seu prestigio a Igreja se
envolviam em guerras e mandavam construir igrejas magníficas como a Basílica de
São Pedro, em Roma, como forma de demonstrar força e superioridade.
Mas tudo isso era muito caro. Para custear todo
esse investimento os papas autorizavam a venda de indulgências – prática
reprovada por muitos católicos. Para vender o perdão os padres cantavam: “Assim
que a moeda no cofre cai, a alma do purgatório saí”. Além disso, muitos
clérigos tinham uma vida de luxo e devassidão, e outros tantos não respeitavam
a castidade. Outra lei da Igreja que desagradava aos fiéis (nesse caso os ricos
burgueses) era a proibição do lucro abusivo, ou seja, a usura. Por fim, a Igreja era detentora de muitas terras que eram
cobiçadas pelos nobres.
Assim a reforma protestante não foi simplesmente um
protesto contra o lado humano ruim da Igreja. Não foi, de forma nenhuma, apenas
por que os padres eram desonestos, impuros, devassos e vendiam indulgências que
as Igrejas Protestantes surgiram. Elas também serviram para atender a
interesses econômicos e políticos, de reis, nobres e burgueses.
O monge Martinho Lutero era padre na Alemanha
quando um enviado do papa Leão X, anunciou a venda de indulgências em sua
cidade. Inconformado, ele afixou, na portas da igreja uma carta com 95 teses
criticando algumas das práticas da Igreja Católica.
Por causa das 95 teses Lutero acabou excomungado,
mas como era protegido do príncipe da Saxônia (um dos muitos reinos alemães)
ele pode desenvolver suas idéias. Entre as principais estão:
·
A justificação pela fé, pela
qual as aparências têm valor secundário. A única coisa que salva o homem é a
fé. Sem ela, de nada valem as obras de piedade, os preceitos e as regras.
·
Por isso a Igreja não tem
função, o papa é um impostor, a hierarquia eclesiástica, uma inutilidade.
·
Outra idéia de Lutero era o
livre-exame. A Igreja era considerada incompetente para salvar o homem; por
isso sua interpretação das Sagradas Escrituras não era válida: Lutero queria
que todos os homens tivessem acesso à Bíblia (por isso a traduziu do latim para
o alemão).
Lutero criou uma nova Igreja, com uma nova doutrina
religiosa, o luteranismo. Ele pregava que só a fé os salvaria e condenava as
indulgências e a confissão. Ele também negou a infalibilidade do papa, diminuiu
os sacramentos de 7 para 2 (batismo e eucaristia) e simplificou a cerimônia
religiosa: feita por um pastor, deveria limitar-se à leitura da Bíblia,
orações, ao sermão e aos hinos.
O luteranismo espalhou-se pela Alemanha, Suíça,
França, Flandes, Dinamarca, Noruega e Hungria. Houve a tentativa e impedir o
avanço da nova doutrina, mas os fiéis (já muitos) protestaram em defesa de seus
direitos. A partir daí a nova Igreja passou a ser conhecida como protestante.
Mas ele não foi o único que atacou a Igreja
Católica. Na mesma época, Thomas Münzer tentou criar uma nova Igreja cristã na
Alemanha. Münzer era professor universitário e seguidor das idéias do humanismo
renascentista. Ele liderou um movimento religioso chamado anabatista.
O
catolicismo não era mais o único representante da doutrina cristã na Europa
ocidental. A divisão do cristianismo em novas Igrejas chamou-se Reforma. |
Seguidor do individualismo dos humanistas, Thomas
Münzer tinha uma interpretação própria da Bíblia. Achava que o cristianismo era
uma mensagem religiosa a favor dos pobres e contra os ricos. Na verdadeira
sociedade cristã, dizia ele, todos os bens seriam divididos entre as famílias.
Não haveria nobres nem gente sem terra para cultivar.
As idéias anabatistas influenciaram os
trabalhadores rurais. Em vários lugares da Alemanha, os camponeses invadiam os
castelos e expulsavam os nobres. As terras dos feudos eram tomadas e divididas
entre os servos. No fundo, a reforma anabatista era uma revolta camponesa
contra o feudalismo. Mas ela se expressava através da religião.
A nobreza alemã organizou um
grande exército, composto por católicos, protestantes, burgueses e padres e, em
maio de 1525, eliminou mais de 100 mil camponeses, inclusive Thomas Münzer. A reforma anabatista fracassou. A
reforma vitoriosa foi a luterana.
No final, a Reforma Luterana não se espalhou por
toda a Alemanha. Os Estados alemães do sul e do leste (Áustria) permaneceram
católicos. No norte da Alemanha, a maioria da população aderiu ao
protestantismo de Lutero, que alcançou outros povos, como os noruegueses,
suecos e dinamarqueses.
Na Suíça, o luteranismo foi defendido pelo francês João Calvino, que, acrescentando-lhe suas idéias, deu origem a uma nova doutrina, o calvinismo. Calvino defendia a predestinação. Acreditava que algumas pessoas já estavam escolhidas por Deus para serem salvas. A fé e a prosperidade econômica eram sinais da escolha divina — o que valorizava o trabalho e justificava as atividades da burguesia. Calvino também pregava uma vida puritana, sem excessos de luxo e conforto, sem esbanjamento material: o calvinista deveria ser austero e disciplinado. Esse comportamento favorecia a acumulação e, portanto, a riqueza. Por isso, na verdade, Calvino estava trabalhando em nome de uma classe social, a burguesia e, nesse ponto, além a força espiritual há também a força econômica dos novos ricos.
O Anglicanismo
A Reforma Católica
Diante essa situação a Igreja Católica teve de
tomar providências urgentes para recuperar o prestígio evitar que milhões de
fiéis passassem para “o outro lado”. Assim ela começou a se corrigir, se
reorganizar de dentro para fora.
No Concílio
de Trento (1545—1563 a cúpula da Igreja (o papa e os bispos reunidos)
decidiu mudar muitas coisas Tinha início a Contra-Reforma Católica. A primeira
providência foi uma faxina na moral no clero: os padres mais corruptos e
incompetentes foram afastados Acabou a venda de indulgências. Os novos padres
tinham de estudar mais e eram controlados de perto para que “não se desviassem
do caminho da santidade”
O concílio confirmou a doutrina católica e repudiou
o protestantismo. Manteve o uso do latim na missa e o celibato para o clero.
Reafirmou a autoridade e a infalibilidade do papa, ao qual toda a comunidade
católica devia submeter-se. Porém, cedendo às críticas, decidiu fundar
seminários, onde se instruiriam os futuros padres. A venda de cargos religiosos
não seria mais permitida. Também ficou proibida a venda de relíquias e de
indulgências.
A Igreja católica também promoveu um estilo
artístico que havia surgido no início do século XVI, em Roma: o Barroco. Esse
estilo não se restringiu ao contexto religioso, mas ficou identificado com a
Contra-Reforma: exuberante, deslumbrava os fiéis ao apelar para a sensibilidade
e a emoção. Os artistas criavam imagens que pareciam sair da tela ou estátuas
que pareciam vivas, graças aos cabelos naturais, olhos de vidro e trajes
elaborados. As igrejas barrocas eram monumentais: espaçosas e iluminadas, com
altares enormes e decoradas em mármore, bronze, ouro e marfim.
O famoso Tribunal
do Santo Oficio, também chamado de Tribunal
de Inquisição, foi revigorado (ele existia desde a Idade Média). Era
formado por padres e julgava as pessoas acusadas de heresia (ofensa ao
cristianismo, ou seja, ao cristianismo segundo a visão dos católicos).
Os suspeitos de cometer heresia eram presos e
interrogados pelos padres inquisidores. E aí começava a face tristemente brutal
da Inquisição: os acusados eram torturados até que confessassem (ou morressem
de tanto apanhar). Por exemplo, os pés do prisioneiro eram mergulhados dentro
de um panelão com azeite fervendo, palitos eram enfiados debaixo de suas unhas,
os mamilos eram arrancados fora com um alicate. Geralmente o acusado berrava de
dor e, sofrendo muito, acabava confessando inclusive o que não tinha feito.
Então era punido. O castigo poderia ser desde uma simples advertência até a
perda de seus bens (dinheiro, casa, móveis, roupas etc.), a prisão ou, em casos
mais graves, a morte na fogueira.
Afinal, quem era considerado herege? Para começar,
os protestantes. Mas também os judeus. Os judeus acabaram sendo expulsos da
Espanha e de Portugal, que assim perderam excelentes artesãos, médicos,
intelectuais, comerciantes e banqueiros.
As
mulheres acusadas de bruxaria e de feitiçaria também queimaram na fogueira da
Inquisição. É claro que elas não eram verdadeiramente feiticeiras ou bruxas.
Mas as mulheres que não seguiam a moral tradicional, que cultivavam antigas crenças
pagãs, que receitavam ervas medicinais para ajudar as pessoas eram candidatas à
fogueira. Mulheres bonitas e judias podiam ser acusadas de enfeitiçar os homens
e também encaminhadas para a Inquisição. Os historiadores atuais calculam que
mais de 40 mil mulheres foram queimadas como bruxas entre os séculos XV e
XVIII.
Os filósofos e cientistas que contraiam a doutrina
da Igreja Católica também corriam riscos. O físico italiano Galileu Galilei,
por exemplo, quase foi executado por ter defendido a ideia copernicana de que o
Sol não está no centro do Universo
Outro instrumento da Contra-Reforma foi o Índex, que era uma lista de livros a
Igreja proibia que fossem publicados. Uma censura contra as novas ideias
filosóficas, científicas e religiosas da época.
Durante a época em que o Brasil foi colonizado
(1532 a 1822), não existia um Tribunal de Inquisição permanente no país. Mas
aconteceram visitas de padres inquisidores. Algumas pessoas chegaram a ser
presas e enviadas para o castigo em Lisboa.
Quem a Inquisição atacou no Brasil? Em primeiro
lugar, os judeus. Inclusive os cristãos-novos, que eram judeus que fingiam ter
se convertido ao cristianismo para fugir das perseguições religiosas (em
Portugal eram chamados de marranos). A Inquisição também puniu algumas
mulheres, acusadas de feitiçaria. Outro grupo severamente castigado era o dos
homossexuais, que são as pessoas que amam e têm relações sexuais com outras do
mesmo sexo. Os historiadores atuais descobriram vários documentos comprovando
que eles eram presos e torturados.
É importante ressaltar que não foi apenas a Igreja
Católica que usou da força contra os fiéis. Além do caso dos anabatistas, as
novas Igreja Protestantes também mataram milhares de mulheres acusando-as de
feitiçaria e também muitos católicos.
1. Explique
a origem dos termos: luteranismo, calvinismo e anglicanismo.
2. A Reforma
Protestante foi uma reação contra ideias e práticas difundidas pela Igreja
Católica. Enumere e comente três dessas ideias e práticas.
3. Quais as
mediadas tomadas pela Igreja Católica para conter a Reforma Protestante?
4. Por que o
calvinismo atraiu tantos comerciantes e banqueiros?
5. O que
significou a Reforma: a divisão do cristianismo ou o nascimento de novas
religiões? Faça um comentário.
6. Qual a
diferença entre Igreja e Religião? Pode-se criticar uma sem, necessariamente,
criticar a outra?
7.
O que foi
o Concílio de Trento?
8.
Explique
o que foi o Index. Na sua opinião essa censura era eficaz?